sábado, 9 de maio de 2009

Le Scaphandre et le Papillon


A seu devido tempo (2007), ouviu-se falar de "O Escafandro e a Borboleta". Entretanto, o cinema foi lançando outras novidades sobre as quais me debrucei. Nem era, sequer, grande apreciadora do cinema francês - do qual, curiosamente, gosto cada vez mais. Hoje, num assomo de ter outras experiências cinematográficas que não as proporcionadas pelo meu habitual romance, decidi vê-lo.

Pelo mesmo realizador de "Antes do Amanhecer", Julian Schnabel, com Mathieu Amalric e Emmanuelle Seigner.

O filme choca, é como se nos enclausurasse dentro de nós próprios desde a primeira cena, com Jean-Dominique a contactar com o mundo através de um olho apenas, com o outro danificado e o corpo aprisionado dentro de si próprio. Faz-nos valorizar os nossos movimentos, agonizar com a sua clausura. Entretanto, não é exactamente um filme derrotista. Desenvolvendo um código para lhe permitir falar, uma enfermeira ajuda-o a comunicar com o exterior através de debitações do alfabeto acompanhadas de piscadelas de olho dele. Desta forma, ele propõe-se escrever um livro. Aos poucos, vai narrando a sua experiência e recordando a sua vida, tão egoísta e fútil, por vezes, quanto a da maioria de nós, com pequenos momentos de carinho ou atenciosidade para com os outros. É evidente a sua vontade de regressar atrás ou recuperar os movimentos para rectificar tudo, para ser melhor, para aproveitar a vida de outra forma. Deixara a sua mulher por uma amante que não arranja coragem para o ir ver e sente-se humilhado pelo fosso de incapacidade que o separa agora dos filhos.

Comovente, apela à reflexão, à valorização da vida, das apetências mais básicas em si, à realização dos nossos sonhos e também a colocarmos o egoísmo de lado e sermos mais para os outros, de modo que nos recordem. De modo que, se nos forem um dia visitar ao hospital por, aos 42 anos, termos sofrido um AVC, não nos encham o peito de culpa e gratidão pelas faltas que cometemos para com os mesmos.

Aconselho a todos os que sintam que precisam de uma pequena orientação na vida - vê-la pelos olhos de quem a tem na corda bamba é a forma ideal de valorizá-la.