terça-feira, 14 de abril de 2009

The Jane Austen Book Club


Não me acontece todos os dias, nem me acontecia há muito tempo, chorar de facto ao ver um filme. No entanto, enquanto via este filme, identificava-me com cada uma das personagens, compreendia-as, apaixonei-me por elas, pelas suas vidas e pelos seus impasses.

Em redor de seis das obras de Jane Austen, encontram-se seis pessoas - cinco mulheres e um homem encantador, Grigg - dispostos a ocuparem-se cada um de uma obra em especial, lendo-as todas e discutindo-as em conjunto.

Temos uma de meia idade que foi casada seis vezes e ainda assim, tem fé suficiente no casamento para admitir que gostaria de se casar uma sétima.
Temos outra que, no secundário, abdicou do namorado em prol de uma amiga e que viveu sempre sozinha, com os seus cães, e que nunca se apaixonou.
Temos outra que, professora de Francês sem nunca ter ido a França, apercebe-se que existem fossos intransponíveis entre si e o seu marido e apaixona-se por um aluno.
E outra que, com uma filha maior de idade, recebe a inesperada confissão do marido sobre o facto de ter uma amante e de pretender deixá-la, e divorciam-se.

E temos Grigg Harris, que amante da ficção científica, aceita ler as obras de Jane Austen com relativa boa disposição para estar perto de Jocelyn, a mulher que nunca se apaixonou e que o quer encomendar à amiga recém-divorciada. É nestes dois principais que reside, na minha opinião, a génese da história. Nos esforços que faz para dar um passo na direcção dos gostos de Jocelyn enquanto ela continua a apregoar não ser capaz de ler os seus livros de ficção científica, incapaz de compreender que ele se apaixonou por ela e que ela própria se está a apaixonar por ele.

E temos a professora de Francês, de lágrimas nos olhos, a estender o "Persuasão" ao marido a pedir-lhe que lho leia por favor, ao que ele responde que ela anda a tentar torná-lo numa pessoa que ele não é. Ela explica-lhe que o romance é sobre duas pessoas que tentam persuadir-se de que ainda é possível funcionarem juntas, pelo que ele aceita que ela lhe leia a primeira página e, numa cena comovente que me pôs de lenço na mão e pingo no nariz (sem falar dos dos olhos), ela adormece no seu peito e ele continua a leitura, ávida, da belíssima história de Jane Austen.

Também porque trata lugares-comuns da minha vida, pormenores que mexem com a singularidade da minha própria história, cheguei a uma conclusão: Não se deve esperar das pessoas mais do que elas podem dar. E, depois deste filme, reformulei-a: se tens fé na pessoa e a achas capaz, grandiosa, espera tudo o que possas dela, e talvez assim aconteça.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Cinema Paraíso


Há qualquer coisa no cinema italiano e, gostaria de dizer, em Giuseppe Tornatore. Contudo, só assisti a esta obra do realizador: foi o suficiente. A banda sonora é de Ennio Morricone, igualmente inesquecível.

A nossa queridíssima professora de História levou-o para a aula, num desses dias distantes de há dois, três anos, e pô-lo a rodar. Alguém fica indiferente a este filme? As reacções foram-se sucedendo: rimos, sentimos o coração apertado, exultámos pelo sucesso do Salvatore, lamentámos a sua vida vazia, debruçámo-nos sobre a sua história de amor, e, sou obrigada a exclamar, como é belo este filme!

No pós-guerra, Salvatore é a criança adorável da capa do filme cujo pai faleceu na Rússia, em combate. A sua aldeola está marcada por gritos políticos contra e a favor fascistas e comunistas, cada um com a sua ferida de guerra. O Salvatore tem uma paixão: o cinema, e é por isso que segue Alfredo para todo o lado, um humilde velhote que põe os filmes a passar no Cinema Paradiso da cidade - a única alegria dos aldeões, que os une a todos em gargalhadas. Alfredo segue as ordens do padre e corta as cenas "menos próprias" dos filmes, conforme mandam os costumes da época.

Após um romance frustrado, Salvatore segue para a cidade onde, décadas depois, é um aclamado cinematógrafo. Esta cena que vos mostro é a cena final pois depois de muito lutar pelas cenas cortadas dos filmes, Alfredo promete que lhas guarda e, após a sua morte, passa-lhas por fim. A este daria ***** estrelas, não fosse o meu filme preferido de todos os tempos.

Slumdog Millionaire


Gostaria de começar por perguntar porque é que, para português, a tradução ficou "Quem quer ser bilionário?" - se o próprio e famosíssimo programa era "Quem quer ser milionário?"

O filme ganhou diversas categorias nos Óscares e nos Globos de Ouro, parece-me que muitos ficaram decepcionados com o filme e, outros encantados. Decepcionados porque um filme tão aclamado, tão promissor, pode não ter respondido a todas as expectativas. Também porque ganhou todos aqueles prémios - Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Banda Sonora... - e havia quem tivesse outros filmes por seus favoritos. Eu pertenço à categoria dos que ficaram encantados. Ouvi falar pouco do filme, antes, algo como "Um filme indiano que vai concorrer aos Óscares". Peguei nele, vi-o depois de assistir ao trailer que transmite muito bem as emoções e o próprio percurso temporal do filme, e deixei-me maravilhar pelos cenários, as personagens, as maldades, a beleza daquelas crianças, aquilo que, tantas vezes, se confunde com espontaneidade.

A história é quase um conto de fadas, apenas não adequado a crianças menores de, vá, doze anos. Crianças são aprisionadas para irem pedir dinheiro nas ruas e enriquecerem outrem, este outrem é suficientemente ambicioso e monstruoso para magoar estas crianças, para as tornar dignas de pena e, portanto, mais rentáveis. Latika e Jamal conhecem-se desde pequenos, desde que as suas famílias são massacradas e passam a partilhar o mesmo destino. Também aqui, se sucedem cenas magníficas da pureza infantil num processo de conhecimento mútuo - há até a chuva, sempre poética.

Reencontram-se algumas vezes, sempre em situações difíceis, tornadas pior pelas mãos do irmão de Jamal. É então que, o simples rapaz que distribui chá num call center decide participar no Quem Quer Ser Milionário? para poder recuperar a mulher da sua vida. A cada pergunta que lhe fazem, surge o seu passado a mostrar-lhe a resposta. Surge a descrença do apresentador e a aclamação do público - porque advogados, médicos, académicos - todos falharam, nenhum chegou ao topo.

D: É o destino.