segunda-feira, 23 de março de 2009

The Reader


O filme "The Reader", de realização a cargo de Stephen Daldry, é uma surpresa pela positiva. O trailer transmite a ideia de um romance acabado que eventualmente trará culpas a ambos os protagonistas, Kate Winslet (Hanna Smichz) e Ralph Fiennes (Michael Berg). O filme surpreende na medida em que este amor prevalece vivo e é muito mais aprofundado na tela do que o espectador poderia esperar. A aproximação sexual de um rapaz de 15 anos a uma mulher de quase o dobro da sua idade, e a forma como isto modifica a mente do rapaz, tornando-o quase adulto precocemente. A relação dos dois transcede a imoralidade que começa por sugerir, uma vez que evolui para longas tardes de leitura do jovem à ex-guarda nazi. Também é verdade que Michael só conhece o passado dela anos depois, enquanto estudante de Direito.

A personagem de Ralph Fiennes é profundamente marcada e explicada por essa vivência prematura com uma mulher madura, pelo carinho e complexidades do que partilharam. Quanto a Kate Winslet, consegue dismistificar a ideia de dureza e insensibilidade dos apoiantes do nazismo através da inocência que transmite, da ideia de incapacidade de tomar decisões grandes por si, que evidencia que foi persuadida, assim como as suas colegas de profissão, a cometer todas as atrocidades que cometeram em nome de um regime doentio.

Na minha opinião, a beleza do filme reside no facto de, apesar do seu passado negro, ser a questão do analfabetismo que preocupara realmente Hanna Schmiz, ao ponto de se permitir ser condenada se isso implica revelar esta realidade. Michael Berg fica dividido entre a verdade sobre o passado de Hanna Schmiz e o seu lado dócil e ingénuo, que conheceu enquanto lhe lia, de tal forma que lhe envia cassetes gravadas com a sua narração de todos os livros que possui. Através destas gravações, o filme conhece, para mim, o seu auge, quando Hanna, através da contagem das palavras que houve, começa a aprender a ler circundando a lápis as palavras impressas no livro.

Um filme que não poderia ter sido feito noutra época que não o séc. XXI, quando o cinema já não cria personagens "boas" e "más", mas tão deliciosamente complexas que o próprio espectador tem dificuldades em posicionar-se e formar uma opinião, ora condenando-a, ora identificando-se com ela, ora absolvendo-a das suas culpas.

Kate Winslet mereceu o Óscar de Melhor Actriz, pois a essência perturbadora do filme reside olhar enigmático - ora confuso, ora alegre, ora indignado - de Hanna Smichz.

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